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Exemplar de casa bandeirista, Museu Barão de Mauá passa por importante processo de levantamento e diagnóstico

Projeto contemplado pelo ProAC é conduzido pela Engenho Cultural Assessoria e Consultoria em parceria com Largo Arquitetura; serão realizadas oficinas, visitas guiadas e ações de comunicação

Situado numa casa de tipologia bandeirista, provavelmente do século XVIII, e um precioso exemplar remanescente do período, o Museu Barão de Mauá, localizado no município de Mauá (SP) está passando por um cuidadoso levantamento cadastral, etapa inicial de projeto de restauro que, futuramente, pode possibilitar o desenvolvimento de uma intervenção de restauro. O processo, iniciado no final de outubro, é gerido pela Engenho Cultural, conta com a parceria da Largo Arquitetura e reunirá, ainda, a realização de oficinas e a produção de um site para democratizar as informações acerca do processo como um todo e do espaço. A previsão de conclusão é em setembro de 2023. 

O projeto foi contemplado pelo ProAC (Programa de Ação Cultural), realizado pelo Governo do Estado de São Paulo e Secretaria de Cultura e Economia Criativa. É a primeira vez que é aberta esta linha de fomento: Patrimônio Histórico e Cultural / Realização de Projeto Executivo de Restauro e Revitalização de Bem Protegido.

“É de extrema importância o levantamento junto com o diagnóstico, para elaborar o projeto de restauro do Museu Barão de Mauá, que tem grande importância, não apenas para os munícipes, mas também para todo o ABC e o Brasil. É através da nossa memória que a gente conhece nossa identidade cultural”, afirma o secretário adjunto de cultura do município, Tadeu de Souza.

“Esperamos que, uma vez que esse diagnóstico esteja pronto, possamos, no futuro, partir para um outro projeto, por meio do qual entregaremos o Museu restaurado para Mauá”, completa o secretário adjunto.

Etapa inicial

O projeto em sua etapa inicial, reúne desenhos referentes à construção do edifício realizados a partir da técnica as-built que, diferente das plantas habituais voltadas à construção, formadas por linhas retas e ortogonais, ressaltam as características construídas do edifício e elementos como paredes irregulares e espessura das alvenarias e partes ausentes.

Estão sendo realizados registros fotográficos de forma a evidenciar a relação do edifício com seu entorno e uma pesquisa histórico construtiva, com levantamento da documentação que aponta as fases construtivas do museu; além do diagnóstico em que são identificadas as patologias, devidamente representadas em desenho técnico, a fim de permitir leitura das condições que afetam o edifício.

“Estamos realizando todos os procedimentos necessários e levantando as informações para definição da intervenção proposta nos aspectos técnicos, conceituais e quantitativos, focando na execução. As propostas do projeto serão pautadas na identificação e conhecimento do bem e nas análises processadas no diagnóstico”, explica Thiago Torina, da Largo Arquitetura. 

 

Oficinas, visitas guiadas e comunicação

O projeto contará com uma série de contrapartidas. Serão realizadas sete oficinas para alunos dos ensinos fundamental e médio, acadêmicos e sociedade civil, que devem reunir, no total, mais de 200 pessoas; além de três oficinas para colaboradores do museu e demais interessados, abertas a 60 participantes. 

Haverá, ainda, duas aulas de campo para acadêmicos e interessados nas áreas propostas e três visitas guiadas destinadas ao público de entidades assistenciais. Tais atividades devem reunir, no total, 150 participantes. De forma a evidenciar o trabalho e levar conhecimento à sociedade, serão produzidos dois materiais de comunicação: um vídeo e um site com informações acerca das etapas do projeto.

 

História e importância para o município

As casas de tipologia bandeirista são habitações do início da ocupação do estado de São Paulo no período colonial, exemplos seminais da arquitetura paulista, que predominaram até a construção das ferrovias, no século XIX. Construídas com a técnica de taipa de pilão, têm uma planta simples, em forma quadrada ou retangular, com porta central, varanda, ladeada por dois cômodos e um salão principal.

O Museu Barão de Mauá é considerado de grande importância para o município onde está inserido. “A população da cidade se identifica com a casa desde o século XIX, quando muitos acreditavam que o Barão de Mauá tivesse morado no local, um mito que teria contribuído para que a casa sobrevivesse à especulação imobiliária do início do século XX”, afirma Renata Gava, da Engenho Cultural Assessoria e Consultoria.

Na década de 1920, segundo especialistas, a casa tornou-se sede social de dois clubes, o Industrial e o Pilar, onde eram realizados muitos bailes no salão central e festas de réveillon. Na década de 1930, Adolpho Ferreira, sua esposa Anna e família, adquiriram a casa. A partir da década de 1950, quando D. Anna ficou viúva, o imóvel passou a ser alugado para diferentes famílias, que efetuaram intervenções tanto no interior da casa como na área externa, descaracterizando o imóvel.

Na década de 1970, a casa foi identificada pelo arquiteto Carlos Lemos (FAU/USP), que recomendou o seu tombamento. Em 1975, a Prefeitura desapropriou o imóvel, e iniciou pesquisas para a reforma da casa. Em 6 de novembro de 1982 foi inaugurada a Casa de Cultura e Museu Barão de Mauá, depois tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), como uma preciosidade remanescente do período bandeirista. Desde então, o Museu é mantido pela Prefeitura Municipal de Mauá, subordinado à Secretaria de Cultura e Juventude.

Rafael Bitencourt
Jornalista – MTB 51.477/SP